sexta-feira, 20 de maio de 2011

Olhaste-me e me deixei seduzir


Ah! se teus olhos não tivessem mirados os meus

Talvez não me adotaria como consciência de si, mas mesmo assim me faria reconhecer por ela e a reconheceria do mesmo modo,

Entretanto sou neste pequeno nada que não sei, mas sou, mesmo sem saber

Sou quem sabe um conhecimento povoado de palavras e maquinas

Imerso em enigmas e ambiguidades, indagando sobre minha identidade, origem e destino.

Restando-me como resíduo que quase não suporta a verdade ultima, mas busca um resquício de real impossível de nomear aqui.

Sobrevivendo como minha lanterna a procura da existência de um outro, quem sabe materno, nesta alucinação de completude cravada no seio de uma primeira alienação.

Prossigo incansavelmente produzindo formulas, teoremas, maquinações, poemas... Enigmas indecifráveis a mover a geografia do universo, entrecortando o fascinante brilho das fantasias de sedução,

Ate que role a pedra que no terceiro dia ainda insiste em me encadear.

E mesmo sem conhecer a Bahia, atrevo-me a escrever sobre os olhos de Monet

Das cataratas que num entardecer de uma vida o fizera ver o mesmo colorido em enxurradas de cores distintas.

Não eram olhos teus olhos ousadamente deslocado da posição inaugural...

Não eram apenas captadores de imagens articulando e jogando com esse arcabouço brilho ofuscante...

Nem um eu narcísico invadido de imensa sede... nem um sedutor morrendo ao pe da fonte impossibilitado de apoderar-se de seu amor.

Apenas um forjador ao ter o que se arrogava: ver sendo visto no meu olhar!

Retribuí adoçando o fel de sua saliva com o melaço da minha

E depois? Depois me perdi...

Preso nesta armadilha nada mais apreendo de mim além daquilo que descubro no reflexo dos teus olhos.

Agora detido circunscrevo a soberania da angustia de um despossuído de si,

Nos relatos de uma febre que queima e desnorteia meu corpo despido de olhares que medem e orientam caminhos que me faltam percorrer, cheios de armadilhas eu sei, mas que por isso mesmo, são tão sedutores. (Leonardo Frossard)

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