Ah! se teus olhos não tivessem mirados os meus
Talvez não me adotaria como consciência de si, mas mesmo assim me faria reconhecer por ela e a reconheceria do mesmo modo,
Entretanto sou neste pequeno nada que não sei, mas sou, mesmo sem saber
Sou quem sabe um conhecimento povoado de palavras e maquinas
Imerso em enigmas e ambiguidades, indagando sobre minha identidade, origem e destino.
Restando-me como resíduo que quase não suporta a verdade ultima, mas busca um resquício de real impossível de nomear aqui.
Sobrevivendo como minha lanterna a procura da existência de um outro, quem sabe materno, nesta alucinação de completude cravada no seio de uma primeira alienação.
Prossigo incansavelmente produzindo formulas, teoremas, maquinações, poemas... Enigmas indecifráveis a mover a geografia do universo, entrecortando o fascinante brilho das fantasias de sedução,
Ate que role a pedra que no terceiro dia ainda insiste em me encadear.
E mesmo sem conhecer a Bahia, atrevo-me a escrever sobre os olhos de Monet
Das cataratas que num entardecer de uma vida o fizera ver o mesmo colorido em enxurradas de cores distintas.
Não eram olhos teus olhos ousadamente deslocado da posição inaugural...
Não eram apenas captadores de imagens articulando e jogando com esse arcabouço brilho ofuscante...
Nem um eu narcísico invadido de imensa sede... nem um sedutor morrendo ao pe da fonte impossibilitado de apoderar-se de seu amor.
Apenas um forjador ao ter o que se arrogava: ver sendo visto no meu olhar!
Retribuí adoçando o fel de sua saliva com o melaço da minha
E depois? Depois me perdi...
Preso nesta armadilha nada mais apreendo de mim além daquilo que descubro no reflexo dos teus olhos.
Agora detido circunscrevo a soberania da angustia de um despossuído de si,
Nos relatos de uma febre que queima e desnorteia meu corpo despido de olhares que medem e orientam caminhos que me faltam percorrer, cheios de armadilhas eu sei, mas que por isso mesmo, são tão sedutores. (Leonardo Frossard)
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