sexta-feira, 20 de maio de 2011

Amanhã






Palavras, sementes e palavras, sentimentos e palavras.
Um segundo tão imenso que chega a ser doído, maltratado pelo chicote, escarnecido pela inexatidão de uma espera tardia.
Eu sempre orgulhoso, eu general, eu faraó de Egito sem Nilo, somente imerso em lágrimas esparsas de segundo em segundo derramados.
Pensei apagar o sol com meu mando
Acender as estrelas da manhã
Iluminar o quarto com as mais incandescentes surpresas.

Pela noite das horas senti, entretanto, a noite das profundezas
A mais insólita das imagens que deixei escapar
Aquela segunda pele, quase de serpente, que deixei na estrada depois do sofrimento.
Não era perfeito, não era estrela de Nilo algum.
Sofria apenas
Transitar entre dois mundos não é fácil quando se é apenas uma ave menor, minúscula.
A centelha de inspiração que a mim vem não me faz escrever aos deuses, poetizar para os deuses, não me permite comprar a alforria libertaria que às minhas asas dariam novo folego.

É noite, é escuro quando o Sol nos é faltoso.
Perdi muito luminárias faltantes,
Batalhei comigo mesmo arranhando minha sombra com espada
Escorre-me sangue na lágrima que ao permiti demandar dos olhos
Permita que eu entre nos teus olhos em fuga para que refúgio seja verdadeiro.
A noite é sombra quando se espera o vindouro, um bocado de luz e uma tanto de clareza.
Os passos ficam mais inseguros, as mãos mais trêmulas, o agir mais covarde.
Penélope tece a mortuária de Ulisses, a noite tece a mortuária do tempo.
E eu somente escuto o balbuciar do vento dançando com as dunas de areia.
Tormenta insuportável:
Premeditei a morte da Noite e com uma estrela grande rasguei seu véu
O dia agora me é a força externa e no findar mais recente das vésperas mais caducas.
A existência que abraço é o amanhã mais suave.
Não existe mais noite, somente o amanhã, somente espera do dia.
Ânsia de reter-me ao seu calor
Espera eloquente de uma discursividade que me vem em socorro
Banha minh’alma, lava minhas feridas de demorada espera.
Balsamo perfumado, descanso merecido.
Pois o dia breve vem, e permanece.
O dia será eterno ate que existe alguém para esperar a sua chegada. (Leonardo Frossard)

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