quarta-feira, 27 de abril de 2011

O que havia


(Ao Renato)

Havia um fiasco de luz crepitando na escuridão castanha de teus olhos.

Havia uma tanto de dor nos meus olhos que quis rasgá-los com as facas cegas das montagens infantis.

Havia uma falta de luz, um aquário sem peixes solitários e tantos bêbedos mendigando um nada de cor azul.

Havia um céu de estrelas envelhecidas sobre nossa cabeça, tantas cabeças, tão poucas palavras de tão necessárias falas.

Havia de tempo em tempo metamorfoses intimas dum tipo que nossa pátria rara produz.

Veteranos de guerra, principiantes de vida, profetas irônicos talhados de carnavais em suas cascas.

Tantas nós foram as alegrias carregadas de medo, sonhos e saudades das mães.

Tanto orgulho e tanta vergonha dos fracassos d’outras condições

Aquilo tudo nos doía numa excitação surda e vazia de pensamentos.

Mesmo assim cantávamos aproveitando a respiração ofegante e a mancha que fazia-nos cambalear para frente com pés imersos no barro.

E dançávamos sob nossas histórias tão mais velhas que seus poucos anos e tão pesadas quanto as revoluções já cobertas pelas pátinas do tempo.

Nem mesmo um milagre faria de nossas águas escorridas dos olhos lantejoulas p’outros carnavais

Nem do mal estar do dia posterior náuseas de um novo tempo com um pouco menos de dor no peito. (Leonardo Frossard)

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