sábado, 19 de março de 2011

Alusão, ilusão ou coisa assim...


Almejo reinventar-me, mas não me encontro onde pensei estar.

Vasculhei toda adjacência sem aparições e desígnios determinados

Afetado pela esperança de no acaso orientar-me.

Se suspirava por erguer os braço, erguia-os,

Mas paralitico, como me encontro; se quero levanta-los não obtenho senão um desejo reprimido.

E eu, cujos dedos e a língua sentem o poder de minha consciência, nada posso fazer pelo coração.

Apenas determina-lo a imposição do silencio sobre minha natureza carnal.

Muitas das vezes me nomearam de visionário e iludiram-me com o os espaços vazios de minha razão.

Donde mergulhei em oceanos, persuadido por devaneios de fantasmas da noite ao nascer do dia.

Acreditando em lutas incessantes com as forças dos ventos e da fome que me flagelava corpo.

Construí meu mundo na garupa de um cavaleiro andante e o perdi na morte do meu cavalo.

Fadários circunstanciais dum destino que me ferira em golpes fatais.

Descobri como o tempo que ser Quixote não bastaria para mim,

Reinventei-me, pois, num Don Juan de pretextos sedutores e sonhados a luz de uma historia de Mil e uma Noites.

Meu sonho acabou quando perdi meus olhos para um olhar que me protelaram a um real imaginado.

Fui Quixote ao combater bravamente moinhos ausentes de real.

Fui Juan para extinguir-me em lenções de sexo sem ecos e espelhos.

Sobraram-me faces desconhecidas dos botecos onde embriago em olhares que tento encontrar-me,

Mas olham-me como se fosse um louco a escrever compulsivamente historiolas que não os alcançam.

Conforto-me, a saber, que digo ao papel as loucuras dos que falam coisas desconexas de mim,

Talvez mais tarde, ofereça-os o papel e a caneta esperando que me doe meia dúzia de seus vocábulos atordoados.

Ouvindo a musica que subjuga meus olhos em notas hipocondríacas e melancólicas.

Percorro-me as imaginações e aos argumentos autênticos que mascaram as descontinuidades de minha personalidade

Em edições de haveres e deveres que me é dado como a de um ser dito normal.

Reinventar-me ficou fadado no escolher entre ser ou meus haveres e deveres e não eu mesmo

Ou, contudo, ser eu mesmo e mais nada e rastejar um bom pedaço para fora de minha concha.

(Leonardo Frossard)

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