terça-feira, 19 de outubro de 2010

Outubro

Um vento de mar mexeu co’as folhas manuscritas e abandonadas de um poema que não se havia acabado

O sol ainda existia e as palavras era lidar sem as reticências excessivas

Apenas resíduos de palavras, formas incompletas, sons empoeirados e uma inspiração, restam-me

O passado marcará-e e dizia que por todas as noites nada mais deveria senão esperar

A noite existia, plena, cheia, viva, superior a si mesma

E eu tão azul e cinza que nem conseguia disfarçar alguém a quem tanto amara

As prateleiras repletas de livros, quantos foram lidos?

Esqueci de mim ate que a galo da madrugada avistara o primeiro fiasco de luz

A anunciar que sou o que acabara de nascer e a galo que anunciava

Ainda é cedo?

Mas minhas palavras morreram de fome nos sussurros lucrativos em cima de um leito.

Tudo. Nada. O sonho. A palavra, o maldito divã. A orelha locada. O paradoxo estéril.

Varias folhas de papel escorregavam-me obstinadas em detalhar o que não se diz.

Eu, da janela do trem, avistava tudo e tinha vontade de gritar

Mas ele avistava minhas lágrimas. Ouvi-a apenas. Sóbrio. Discreto.

Os abutres tomaram-me o poder apanhando as migalhas que restavam das crianças esmigalhadas na linha férrea

Escolheram a morte que lhes cabiam melhor, enquanto o sol nascia e morrei e eu esperava em outro dia de sol

Necessitava-me dos sonhos das conchas perdidas que as ondas empurravam pr’as areias de mim

Todos que acompanhavam minha tragédia desceram das arquibancadas. Espancaram. Pisotearam. Esmagaram-me

Aquela coisa inacabada era em ultima analise apenas eu mesmo

Serviram aos poderosos as migalhas que me ardiam enquanto o arlequim era encarregado de escrever a minha mãe que eu morrera, se é que tivera mãe e, morrera.

Ao que sobrava restou encobrir-se. O decoro das atitudes esconde o corpo. A decência das palavras limpa os discursos.

Embora não houvesse em mim coisa alguma, eu fui minha melhor obra.

Sob o sol amarelo, cravado numa pedra, muitos que por ali passaram, leram: - Diga ao mundo que eu fui feliz! (Leonardo Frossard)

Um comentário:

  1. NOSSA.. que lindoooo.

    "Eu, da janela do trem, avistava tudo e tinha vontade de gritar

    Mas ele avistava minhas lágrimas. Ouvi-a apenas. Sóbrio. Discreto.

    Os abutres tomaram-me o poder apanhando as migalhas que restavam das crianças esmigalhadas na linha férrea"

    Ameei essa parte.
    Léo, você escreve super bem.
    Meus parabéns.
    Seguindo aqui.

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