domingo, 10 de outubro de 2010

Ares que ostento


Escrevo-te porque não me entendo

Talvez a essência de mim esteja na simbólica insciente de um deus

E por isso desveladamente obedeço

Mas tenho muito medo do silêncio de Deus

Acabo assim sendo

Estou dentro dos grandes sonhos da noite

Acostumei-me com o sol com vozes

Sei que o silêncio faz parte natural da escuridão

Mas o silêncio do sol eleva-me em pedras e mais pedras

A claridade do sol não esconde a outra face do silêncio

No fundo de tudo há um contentamento

Nas convulsões de onomatopéias de dor e alegria que penso ser

Sou apenas a caneta que desliza sutilmente neste papel

Há muito já não sou o que fui

Fizeram-me de objeto

Aceitei-me objeto

Falta-me um destino

Sou objeto que pensa pensar e afetar-se em sentimentos

Tenho medo daqueles segredos que escondemos: cada instante é mortal

Sou como esta caneta que escrevo

Inútil enquanto a olho. Objeto

O estranho da palavras que lês esta no sentido que alcança

Queria agradar-lhe numa historia de Shakespeare

Tento conceber-me em uma razão pura

Manter-me não contaminado por sentimentos

Mas vejo palavras

Palavras num esboço quase poético

Que revela à razão a estratégia criada pelo coração ao dispensar teu amor

Mas ainda falta-me um o que é

Sei que minhas palavras ainda são pequeninas

Mas as amo demais e esse amor supera a sua insignificância

Amar demais sempre me arruinou

Eu e a palavra somos objetos

No escuro, no silêncio, no papel... (Leonardo Frossard)

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