Escrevo-te porque não me entendo
Talvez a essência de mim esteja na simbólica insciente de um deus
E por isso desveladamente obedeço
Mas tenho muito medo do silêncio de Deus
Acabo assim sendo
Estou dentro dos grandes sonhos da noite
Acostumei-me com o sol com vozes
Sei que o silêncio faz parte natural da escuridão
Mas o silêncio do sol eleva-me em pedras e mais pedras
A claridade do sol não esconde a outra face do silêncio
No fundo de tudo há um contentamento
Nas convulsões de onomatopéias de dor e alegria que penso ser
Sou apenas a caneta que desliza sutilmente neste papel
Há muito já não sou o que fui
Fizeram-me de objeto
Aceitei-me objeto
Falta-me um destino
Sou objeto que pensa pensar e afetar-se em sentimentos
Tenho medo daqueles segredos que escondemos: cada instante é mortal
Sou como esta caneta que escrevo
Inútil enquanto a olho. Objeto
O estranho da palavras que lês esta no sentido que alcança
Queria agradar-lhe numa historia de Shakespeare
Tento conceber-me em uma razão pura
Manter-me não contaminado por sentimentos
Mas vejo palavras
Palavras num esboço quase poético
Que revela à razão a estratégia criada pelo coração ao dispensar teu amor
Mas ainda falta-me um o que é
Sei que minhas palavras ainda são pequeninas
Mas as amo demais e esse amor supera a sua insignificância
Amar demais sempre me arruinou
Eu e a palavra somos objetos
No escuro, no silêncio, no papel... (Leonardo Frossard)
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